domingo, 4 de dezembro de 2011

O COMBATE DO CERRO DA PALMA

                                                             Cerro da Palma

Por Cássio Lopes

Nos últimos anos da guerra dos farrapos, o império através da ação do então Conde de Caxias, tinha o domínio quase total do território da província.    
A resistência farroupilha se situava na Região da Campanha onde os remanescentes do Exército Republicano se mantinham em luta, mais de guerrilha do que guerra convencional. A frente de uma das mais atuantes colunas do exercito imperial, agia nesta região o destemido Tenente Coronel Francisco Pedro de Abreu, de apelido “Chico Moringue”, todos os farrapos tinham ardente desejo de encontrá-lo e vencê-lo. O Coronel Antonio Manoel do Amaral foi sempre um “sedicioso”, desde o inicio do movimento liberal rio-grandense, e iniciou sua vida militar, em Rio Pardo sob as ordens do Coronel Corte Real.  Por constantes atos de bravura foi galgando postos até atingir a patente de Coronel, como o encontramos, no inicio de 1844, estacionado em Bagé a frente de cerca de 200 homens.  Desejando um confronto com “Chico Moringue”, o Coronel Amaral achou chegada à oportunidade, quando teve conhecimento que aquele chefe imperial marchava sobre Bagé, então iniciou a execução de um plano para envolvê-lo.  No dia 12 de março de 1844 deu ordem ao Tenente Coronel, Camilo dos Santos Campelo, para que marchasse em direção a Vila de Piratini, acampando no Passo das Mortes no Arroio Quebracho. Determinou ao Major Mariano Gloria que deixasse o acampamento no Rodeio Colorado e ocupasse as nascentes do mesmo Arroio.  No dia seguinte se retirou de Bagé para se reunir com Campelo e fazer junção com o Major José Marques, suas forças agora eram de 210 homens. Ao se completar a reunião de suas forcas soube que “Chico Moringue” havia tomado Bagé, fazendo prisioneiro o Ministro da Fazenda Domingos Jose de Almeida e vários oficiais. Vinte e quatro horas depois os imperiais abandonaram o povoado e reiniciaram marcha em direção ao Rio Negro, para no dia 15 estarem no Passo de Candiota, eram 260 homens bem montados e bem armados. O Coronel Amaral, que, com seus bombeiros vinham observando esta marcha de “Chico Moringue”, foi procurando envolvê-lo. Sentindo-se já quase cercado pelos farrapos, o chefe imperial procurou uma forte posição, em que se colocaria em defensiva, obrigando o inimigo a uma arriscada operação ofensiva.  Assim, colocou-se na encosta do Cerro da Palma, entre os Arroios Candiota e o Candiotinha, lugar privilegiado, circundado de banhados e coberto de gravatás. 
                         Banhado e Escarpa do Cerro da Palma
                          Visão Privilegiada do Cerro da Palma
 Estava assim a forca imperial em condições de esperar um ataque, com vantagem de posição.  As diferentes provocações não eram aceitas por “Moringue”, mas o Coronel Amaral estava disposto a tudo fazer para enfrentar e vencer o bravo adversário. Por isso temerariamente resolveu atacar. A galope e toque de clarim os farrapos venceram o banhado, subiram num fôlego o aclive da encosta e carregaram com bravura, sem temer a forte descarga a queima roupa que receberam dos imperiais estaqueados a sua espera. O entrevero foi violento e o combate um corpo a corpo inusitado, teve a duração de duas horas.  O Coronel Francisco Pedro de Abreu, Chico moringue, foi ferido pelo Tenente Coronel Camilo Campelo sendo atingido na cabeça e nas costas, perdendo sangue iniciou uma retirada, protegido por uma dúzia de homens, em sua perseguição saiu o major Mariano Gloria, até as pontas dos Arroios Jaguarão e Torrinhas. A retirada do chefe imperial, contudo, não trouxe o desanimo em seus comandados, o Major Antonio Israel Ribeiro, ficou em campo fazendo tenaz resistência aos farrapos. Sentindo o Coronel Amaral que os seus comandados chefiados por Campelo e José Marques estavam encontrando dificuldades para vencer os imperiais, mandou interromper a perseguição a Moringue, voltando para efetivar uma carga final contra os que resistiam. Vencida a ultima resistência, ficaram os farroupilhas vitoriosos no Cerro da Palma.  Os imperiais perderam metade de seu efetivo, 23 mortos no campo de luta e 40 durante a perseguição, além de 93 prisioneiros, entre os mortos 4 oficiais. Como presa de guerra muita munição, armamento, cavalhada, e correame. Da parte do Coronel Amaral, a informação de haver perdido 4 homens, ficando 4 oficias feridos e 17 soldados.  A vitória foi celebrada com grande aclamação, e ao Coronel Antonio Manoel do Amaral foi oferecido um copo de chifre, lavrado a fogo com os seguintes dizeres:
Campo da gloria no Cerro da Palma 16 de marco de 1844
Quer no monte quer no prado
Cresça erva arbusto e flor
Cresça em nos por toda a parte
União paz e amor 
Quer estranho peregrino
Derrotado ou vencedor
E dever com eles termos
União paz e amor.
Esta relíquia encontra-se no Museu dom Diogo de Souza em Bagé.
        O Coronel Antonio do Amaral morreu em 21 de junho de 1844, com 34 anos de idade, na cidade de Jaguarão, depois de tela tomado dos imperiais, para se abastecer de roupas e gêneros, para o exercito farroupilha, quando se retirava na altura da praça principal, foi atingido pelos tiros dos imperiais.