segunda-feira, 17 de setembro de 2012

COMBATE DO SEIVAL E PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA RIOGRANDENSE

                                     Local do Combate do Seival - Candiota-RS


Por Cássio Lopes:


Em 10 de setembro de 1836, a Província toda estava em poder dos Farrapos. Os chefes conservadores se haviam retirado para o Estado Oriental, vencidos nas refregas que sucederam.  O inverno havia arrefecido qualquer possibilidade de luta. Mas, a chegada da primavera já dava prenúncios de muita atividade.
O Coronel João da Silva Tavares, um dos poucos, senão o único comandante da Guarda Nacional que permaneceu fiel ao império. Apesar de ser compadre de líder farroupilha General Bento Gonçalves da Silva, não aceitou o convite para conspirar e fazer a Revolução. Tavares após um tempo refugiado no Uruguai entra em território brasileiro com alarido, como num passeio militar, chamando a atenção dos adversários.
Tomando as margens do arroio Jaguarão marcha até a Bolena e dali segue para o arroio Candiota, de onde manda pedir ao Comandante das Armas Bento Manoel às ordens para agir.
Acampado na barra do arroio Seival teve notícias de que no Passo do Lageado, no arroio Jaguarão, havia uma força, e foi reconhecê-la.
Era o Coronel Antônio de Souza Netto, com uma força farropilha, que também sabendo da presença de uma força imperial nas proximidades, sai para vê-la.
Inicia-se então o movimento de dois exércitos que em breve se confrontariam. João da Silva Tavares se colocou em um lugar próximo “a casa dos Lucas e à direita da estrada que se dirigindo de Bagé vai para Pelotas, deixando à esquerda um banhado”, conforme uns “apontamentos” existentes nos arquivos da família Silva Tavares. Estava, assim em posição vantajosa, onde poderia esperar a aproximação do adversário.
Nessa posição assumiu o comando da primeira ala e a direção geral da ação, cabendo a segunda ala da esquerda ao Major David Francisco Pereira. Na retaguarda, ficaram quatro companhias.
Antônio de Souza Netto, depois de localizar os imperiais, vinha em marcha resoluta, a ponto do Major João F. Caldwell profetizar que “Netto vinha para triunfar”.
Ao se confrontarem as forças descarregaram suas armas de fogo, mas depois houve o predomínio das armas brancas. Netto havia recomendado aos seus: “Camaradas, não quero ouvir um tiro mais... “À carga, à espada e lança!”. O combate foi terrível.
Inicialmente Silva Tavares carregou com vantagem e fez o adversário retroceder, levando-o de vencida. Mas, à esquerda comandada pelo Major David Pereira teve que recuar.
Nesse momento há um total desarranjo do combate. A cabeçada do freio da montaria de Silva Tavares é cortada, e seu cavalo sai em disparada. Criando-se assim um grande alvoroço entre os seus. David Pereira, querendo corrigir a ação, vendo a gente do Netto voltada para aquela inesperada confusão, manda o Tenente Pedro José Nunes compor a ala direita e arremete outra vez, para recuperar terreno. Atingido pro um tiro na coxa, cai do cavalo e sua gente se dispersa. O combate que se anunciara pressurosa se esfacela num instante.
Antônio de Souza Netto fica vitorioso em campo. O número de feridos, mortos e prisioneiros foi grande. Os farrapos perderam 1 capitão, 4 tenentes, 6 alferes e 156 soldados. E foram feitos 151 prisioneiros, sendo 2 majores , 1 capitão e Joca (mais tarde, chefe maragato na revolução de 1893), o filho do chefe imperial, com apenas 18 anos de idade.
A república não estava nos propósito da revolução farroupilha. Ela se fizera para protestar contra a política do império executava através do Presidente da Província Fernandes Braga. Deposto este, retornou a normalidade, que veio a se interromper com a chegada do novo Presidente Araujo Ribeiro que, apesar de liberal não teve a confiança de seus correligionários.
Embora houvessem homens com ideias republicanas, ela não era bandeira da revolução. Antônio de Souza Netto não se manifestara republicano em nenhum momento, assim como Bento Gonçalves da Silva. Contuto, a República Rio-Grandense nasceu e se institucionalizou.
Após o combate do Seival, a força comandada pelo Coronel Antônio de Souza Netto veio para o Passo das Pedras, sobre a margem esquerda do Arroio Jaguarão, em campos de Joaquim Menezes, a 35 km de Bagé. Todos estavam eufóricos e vibrantes com a inusitada vitória. O acampamento era festivo.
A noite do dia 10 de setembro de 1836, Manoel Lucas de Oliveira e Joaquim Pedro Soares foram à barraca de Netto para conversar. Comentaram o propósito político daquele movimento e a derrota da coluna do centro. No decorrer da entrevista, diz a Netto um dos interlocutores:
- Tanto os revolucionários como os legalistas empunham a bandeira brasileira. É preciso, entretanto, combater um princípio, por uma nova ideia, como a de República.
Netto recusou, alegando que era Bento Gonçalves que dirigia a revolução, e que não cabia a uma tomada de atitude daquela profundidade sem sua anuência.
Mostraram Lucas e Joaquim Pedro a inviabilidade de uma conferencia com Bento Gonçalves e a certeza de que este concordaria com a resolução, pois embora nunca houvesse proclamado de público essa ideia, a tinha no coração.  Depois de muito argumentar, Netto se deu por convencido e disse:
- Como os senhores dizem que se não mudam, a forma de governo, não podemos continuar a nos bater com os nossos inimigos hasteando a mesma bandeira, eu aceito a república. Tomem as providencias a fim de que ela seja proclamada amanhã, em nosso campo.
Os dois interlocutores completaram:
- Na ausência de Bento Gonçalves, que é o General em Chefe, deverão ser feitas promoções e o Coronel mais antigo é João Manuel de Lima e Silva que, além do mais, é oficial da primeira linha. Ele promovido a general, não agradará aos piratinianos e haverá a divisão entre os revolucionários. É preciso que o senhor seja aclamado no campo de combate.
- Aceito! Façam as ordens do dia para serem publicadas.
Naquela mesma noite de 10 de Setembro, ainda sob os reflexos da jornada gloriosa do Seival, Manoel Lucas de Oliveira e Joaquim Pedro Soares rascunharam os documentos de proclamação da República, e da promoção de oficiais para o Exército Repúblicano.
“Ao raiar o sol do dia seguinte, na margem esquerda do arroio Jaguarão, estava a força de Netto a cavalo. Netto apareceu com seu piquete a galope no flanco direito dela; depois que recebeu a continência, foi aclamado General em Chefe do Exército da República Rio-Grandense em campo de batalha. Joaquim Pedro mandou a força por pé à terra e formar em quadro, e dentro dele leu a ordem de dia e mais peças oficiais, ultimando aquele ato com vivas a República Rio-Grandense, ao General Netto e ao Exército Republicano do Rio Grande do Sul. Estes vivas foram respondidos com muito entusiasmo pela força e a República foi aceita pelo exército da mesma maneira”.
A partir de então, foi Antonio de Souza Netto quem “levantou e sustentou a bandeira tricolor da República com honra e gloria durante a ausência de Bento Gonçalves”.



                           Quadro da Proclamação da República Rio-Grandense
                                                  Pintura de Antônio Pereira



Fonte: Bagé e a Revolução Farroupilha –Tarcisio Antonio Costa Taborda, 1985, editora CECOM (Departamento de Artes Gráficas da FUnba)

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